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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Leviatã - Crítica

Nota: 8

Título: Leviatã (Leviathan)
Gênero: Drama
Nacionalidade: Rússia
Ano de produção: 2014
Estreia no Brasil: 15 de janeiro de 2015
Duração: 141 minutos
Classificação indicativa: 14 anos
Direção: Andrey Zviaguintsev
Roteiro: Andrey Zviaguintsev, Oleg Negin
Elenco: Alexeï Serebriakov, Elena Lyadova, Vladimir Vdovitchenkov, Roman Madianov, Anna Ukolova, Sergey Pokhoadaev, Kristina Pakarina


     Antes de falar sobre o filme em si, é necessário conhecer os aspectos históricos, filosóficos e religiosos que envolvem Leviatã, produção russa vencedora do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e grande favorita ao Oscar nessa categoria. O título se refere ao monstro marinho mitológico, muito temido pelos navegantes durante a Idade Média. A criatura foi citada pela primeira vez no Antigo Testamento da Bíblia, no livro de Jó, capítulo 41. Durante muito tempo, foi considerado pela Igreja Católica como um demônio que seria a representação física da inveja, um dos sete pecados capitais.

     Leviatã é, também, o título de um livro do filósofo Thomas Hobbes, publicado em 1651, com o nome fazendo referência ao monstro bíblico. A obra é um estudo da sociedade e de suas formas de governo, sendo um dos mais antigos textos a explicar o conceito de contrato social. Essa teoria defende, resumidamente falando, a necessidade das pessoas abrirem mão de certos direitos para buscar a ordem social, assim, entregando o poder para uma autoridade ou regime político. O Leviatã que dá nome ao livro seria o soberano responsável por manter a paz e a ordem.

     A partir desses conhecimentos, já podemos começar a entender melhor o roteiro do filme. Na história, ambientada em uma península às margens do Mar de Barents, no noroeste da Rússia, o pai de família Kolia (Alexeï Serebriakov) luta na justiça contra o corrupto prefeito da cidade, Vadim (Roman Madianov), que deseja tomar suas terras, mentindo sobre os benefícios que o local teria para cidade com a intenção de obter vantagem no processo. Kolia conta com a ajuda do velho amigo e advogado Dmitri (Vladimir Vdovitchenkov), mas terá que lidar com outros problemas que envolvem sua família, principalmente a esposa Lilya (Elena Lyadova).

      O filme sofreu várias críticas na Rússia devido as fortes críticas ao governo presentes na obra, como já se pode perceber apenas pela sinopse. Porém, é interessante ver como a situação apresentada no longa poderia se encaixar em diversos países por todo mundo, inclusive no Brasil, onde presenciamos os nossos políticos tendo grandes vantagens enquanto a população paga o preço por tudo que os governantes utilizam. Além disso, as críticas de Leviatã não são infundadas, pois todos sabem da enorme corrupção existente no país europeu.

     Nesse ponto, o que acaba por marcar muito é a cena em que Kolia, junto com amigos, decide praticar tiro ao alvo utilizando quadros de ex-governantes como alvos. Ainda há um momento no escritório do prefeito corrupto em que ele fala seus planos enquanto possui na parede uma moldura com o rosto de Vladimir Putin, atual presidente da Rússia.

      O filme funciona como uma espécie de recriação da parábola de Jó, fato que fica explícito durante um diálogo presente na parte final da produção. Assim, já é possível saber o grande sofrimento pelo qual o protagonista passará. Por essa razão, o clima é sempre triste, mas realista. Isso leva a uma grande análise sobre política, relações familiares e religião, alguns dos assuntos abordados na obra. Porém, cada tema é desenvolvido em uma espécie de bloco separado do longa, o que permite um maior aprofundamento, mas quebra um pouco do ritmo da história.

     A parte visual é um dos grandes méritos do filme e merece todos os elogios que esta recebendo. A relação entre homem e natureza é explícita, o que acaba trazendo belas cenas do ambiente. Os locais escuros e os destroços da região revelam mais sobre os problemas que surgem devido a presença dos seres humanos.

     A produção é cheia de simbolismos e acaba sendo representada pelo maior deles (literalmente): os ossos de baleia, que estão, inclusive, no cartaz do filme. Nada representa tão bem o poder de destruição que o homem possui, tanto sobre a natureza, quanto sobre seus semelhantes. Assim, embora demore um pouco para encaixar de vez o roteiro de longos 141 minutos, Leviatã apresenta uma forte crítica política e uma ótima mensagem sobre a decadência do ser humano. Certamente, é o grande favorito para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro desse ano.

Por: Vitor Pontes

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