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quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Beleza Americana - Crítica

Nota: 10

Título: Beleza Americana (American Beauty)
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Ano de produção: 1999
Estreia no Brasil: 25 de fevereiro de 2000
Duração: 122 minutos
Classificação indicativa: 18 anos
Direção: Sam Mendes
Roteiro: Alan Ball
Elenco: Kevin Spacey, Annette Bening, Thora Birch, Wes Bentley, Mena Suvari, Peter Gallagher, Allison Janney, Chris Cooper, Scott Bakula, Sam Robards, John Cho


     Uma das coisas mais importantes para compreender toda a profundidade de Beleza Americana é começar analisando o título. American Beauty é um tipo de rosa muito cultivada nos EUA que, apesar de visualmente parecer perfeita, não possui cheiro nem espinhos. Embora a versão nacional também funcione bem graças a pluralidade de interpretações que o filme oferece, a metáfora da flor descreve de forma perfeita a crítica social da produção: o modo de vida da sociedade americana, onde as aparências e a necessidade de ser aceito vale mais que a liberdade pessoal.

     Lester Burnham (Kevin Spacey) é um infeliz "pai de família" de classe média. Com um trabalho que odeia e uma família que parece não se importar com seus pensamentos, ele se sente cada vez mais deprimido e impotente. Lester é casado com Carolyn Burnham (Anette Bening), uma mulher cujo único objetivo na vida é subir de classe social, sendo perfeccionista e consumista ao extremo. Completando a família, Jane Burnham (Thora Birch), filha do casal, é a típica adolescente revoltada com a sociedade por se sentir fora dos padrões de beleza e personalidade impostos por ela. Lester continua vivendo seus dias de tristeza até conhecer Angela Hayes (Mena Suvari), uma amiga de Jane, que o encanta com sua beleza e faz com que mude suas formas de pensar. Enquanto isso, uma nova família chega ao bairro. Formada pelo ex-militar Frank Fitts (Chris Cooper), sua esposa doente Barbara Fitts (Allison Janney) e o filho perturbado Ricky (Wes Bentley), eles terão uma grande influência na vida dos Burnham.

     A trama aparentemente simples ganha força logo na sequência inicial do filme através da narração do protagonista. "Meu nome é Lester Burnham. Essa é minha vizinhança. Essa é minha rua. Essa é minha vida. Eu tenho 42 anos e, em menos de um ano, estarei morto. É claro, eu ainda não sei disso, e, de certa forma, eu já estou morto.". Uma clima de mistério surge. Porém, a informação sobre a morte do personagem não é um simples recurso para chamar a atenção do espectador, sendo, na verdade, um poderoso instrumento que traz maior impacto a cada decisão na trama. Conhecer a jovem Angela fez Lester "sair do coma" que permanecia há anos. Burnham cansa de ser um mero objeto controlado por sua família e seu emprego, buscando mudar quase todo o seu estilo de vida em busca da verdadeira felicidade.

      O maior mérito de Beleza Americana esta na complexidade de seus personagens, inclusive os coadjuvantes com participações menores. Cada um representa bem os alvos das críticas do brilhante roteiro de Alan Ball, sendo inicialmente mais caricaturados, demonstrando aos poucos todas as suas reais características, o que funciona perfeitamente no jogo de aparências que o filme busca representar.  A mãe Carolyn é a clássica consumista que acredita que quanto mais, melhor. Já a filha Jane é a adolescente que precisa conviver com a necessidade de se adaptar ao mundo, mas tem dificuldades devido aos problemas de sua família  A amiga de Jane, Angela, responsável pela reviravolta na vida do protagonista, apesar de toda a sua sensualidade, necessita esconder suas grandes inseguranças, utilizando a bela aparência para isso.

     Mesmo tratando do american way of life, a mensagem da produção não fica limitada ao público dos EUA. Os diversos temas como conformidade, sexualidade e repressão aumentam o poder do filme, que pode ter impacto sobre diversas culturas.

     O trabalho do diretor Sam Mendes é de um nível incrível, impressionando ainda mais por ter sido o primeiro filme de sua carreira. A forma com que as american beauties são utilizadas visualmente marca diversos momentos da obra. As rosas estão presentes nos jantares da família, nos momentos de fantasias sexuais de Lester com Angela, se encaixando de forma perfeita em várias situações. Destaque para uma das cenas finais, onde um retrato da família Burnham com as flores ao fundo traz um simbolismo profundo.

    Embora todo o elenco tenha boas atuações, Kevin Spacey carrega o filme, mostrando ter merecido muito o Oscar que ganhou pelo papel. O ator faz uma desenvolvimento incrível do protagonista, passando de um homem triste e conformado com sua situação, para um ser humano com liberdade de escolhas. Com um jeito dramático e irônico ao mesmo tempo, é um dos melhores trabalhos da carreira de Spacey.

     Praticamente impecável, Beleza Americana merece os cincos prêmios que ganhou no Oscar (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia). Com uma parte técnica incrível, incluindo uma das melhores trilhas sonoras originais já feitas, e ótimas atuações, é uma das melhores críticas já feitas pelo cinema, podendo ser analisada das mais diversas formas. Uma obra-prima.

Por: Vitor Pontes

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