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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Sniper Americano - Crítica

Nota: 9

Título: Sniper Americano (American Sniper)
Gênero: Drama, Biografia, Guerra
Nacionalidade: EUA
Ano de produção: 2014
Estreia no Brasil: 19 de fevereiro de 2015
Duração: 133 minutos
Classificação indicativa: 16 anos
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Jason Dean Hall
Elenco: Bradley Cooper, Sienna Miller, Luke Grimes, Jake McDorman, Cory Hardrict, Navid Negahblan, Keir O'Donnell, Kyle Gallner, Brian Hallisay, Sam Jaeger, Mido Hamada


     O grande interesse de Clint Eastwood pela política não é novidade para ninguém. Membro do Partido Republicano desde 1951, o cineasta foi prefeito da pequena cidade Carmel-by-the-Sea, ficando no cargo de 1986 até 1988. Apesar de ser conhecido pelos ideais conservadores, o ator e diretor participou de entrevistas nos últimos anos afirmando admirar a filosofia do Libertarismo, da qual teria se tornado adepto. É importante entender o que esse grande gênio da sétima arte pensa sobre os sistemas políticos para a compreensão de toda a polêmica que envolve Sniper Americano, indicado a seis categorias no Oscar.

     Para analisar de forma mais correta uma produção, o melhor é não criar grandes expectativas, mas é impossível ver o título e tema do longa sem esperar por um dos filmes mais patrióticos dos últimos tempos. A obra surpreendeu nas bilheterias americanas, tendo melhores números do que todos os outros nomeados a Melhor Filme juntos. Porém, logo vieram as críticas, acusando o diretor Clint Eastwood e o roteirista Jason Dean Hall de apresentar uma visão rasa e mal desenvolvida do assunto que trata. Com a chegada aos cinemas brasileiros essa semana, todos irão tirar suas próprias conclusões, mas uma coisa é certa: entra facilmente na lista de melhores do ano.

     Com base no livro American Sniper: The Autobiography of the Most Lethal Sniper in U.S. Military Story, o roteiro fala sobre a história real de Chris Kyle (Bradley Cooper), atirador de elite que, oficialmente, eliminou cerca de 160 inimigos em batalha, embora muitos afirmem que foram mais de 200. Passando pela rígida criação no Texas, o casamento com Taya (Sienna Miller) e a ida para o Iraque no período da guerra ao terror, toda a vida do militar é representada.

     Logo no início, já é possível entender um pouco da personalidade do protagonista. O pai do personagem explica que, para a família, as pessoas são divididas em três tipos: os cordeiros, inocentes que sofrem com as injustiças, lobos, os que fazem o mal, e cães pastores, protetores dos fracos e oprimidos. Fica óbvio que Chris Kyle vai escolher o último grupo para se juntar. Seu patriotismo fica cada vez mais perceptível com o tempo. Ao se alistar no exército, ele já tinha 30 anos, o que o leva a ser considerado um dos grandes responsáveis por seu grupo quando chega no Iraque pela primeira vez para combater terroristas.

     Nesse ponto, começa a grande polêmica envolvendo a visão limitada da obra em relação aos conflitos iniciados após o 11 de Setembro. Embora os EUA sejam retratados como os grandes heróis da história, é importante lembrar que estamos vendo os acontecimentos a partir de um homem apaixonado pelo seu país. Não se pode negar que, inicialmente, Kyle é desenvolvido apenas como um homem em defesa da nação.

     Porém, o sentimento patriótico vai sendo deixado de lado conforme os horrores da guerra começam a aparecer. O instinto de sobrevivência passa a dominar todos e a verdadeira motivação das equipes de soldados se torna salvar os colegas que estão ao seu lado. O filme apresenta alguns personagens que não concordam com os acontecimentos do campo de batalha, criando conflito com os ideias do protagonista. Não surgem questionamentos mais aprofundados sobre o assunto, mas dizer que a obra cai totalmente nos esteriótipos do tema é um exagero.

     Com o cenário apresentado, Chris Kyle começa a ser melhor desenvolvido, em grande parte graças ao papel de Sienna Miller, em ótima atuação. A esposa fica em seu país tendo que cuidar dos filhos e viver com o medo de perder o marido a qualquer momento, além de ter que lidar com os problemas psicológicos desse quando volta ao lar. A partir dela, podemos ter uma noção mais humana de toda a situação.

     Clint Eastwood é quase sinônimo de qualidade. Em Sniper Americano, o diretor mostra que continua em plena forma aos 84 anos de idade, criando situações de tensão como poucos conseguem. O espectador sente facilmente a pressão que um atirador de elite sofre, tendo que conviver com decisões morais ao precisar decidir que alvos eliminar. Além disso, as cenas de ação são ótimas, com destaque para o conflito no meio da tempestade de areia.

     Bradley Cooper é a grande estrela do filme e mostra que ainda tem muito a oferecer, apresentando, provavelmente, o melhor desempenho de sua carreira até agora. O ator ganhou peso e desenvolveu seu sotaque, tendo grande comprometimento com o papel. A indicação ao Oscar de Melhor Ator não pode ser considerada um absurdo, embora o injustiçado Jake Gyllenhaal ainda tenha sido melhor em O Abutre.

     Mesmo não apresentando nenhuma crítica elaborada, Sniper Americano é extremamente bem feito. As interpretações políticas, certamente, irão variar entre as pessoas, mas isso não tira todas as qualidades da produção. Uma grande dica: caso não saiba sobre os acontecimentos da vida de Chris Kyle, não procure antes de assistir o filme. O impacto fica ainda maior.

Por: Vitor Pontes

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