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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O Jogo da Imitação - Crítica

Nota: 7

Título: O Jogo da Imitação (The Imitation Game)
Gênero: Biografia, Drama
Nacionalidade: Reino Unido, EUA
Ano de produção: 2014
Estreia no Brasil: 05 de fevereiro de 2015
Duração: 114 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Direção: Morten Tyldum
Roteiro: Graham Moore (Obra original de Andrew Hodges)
Elenco: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Mark Strong, Charles Dance, Rory Kinnear, Allen Leech, Matthew Beard


     Em meio a onda de biografias que vem chegando aos cinemas nessa temporada de premiações, O Jogo da Imitação é uma das obras mais aguardadas, afinal, foram 8 indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado. Porém, mais do que pelo reconhecimento da academia, a obra chama muita atenção devido a figura que decide retratar: Alan Turing, britânico que foi essencial para a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, embora muitos não façam ideia da importância dele, até porque sua verdadeira história só foi revelada muitos anos depois.

   Nascido 1912 na cidade de Londres, Turing (Benedict Cumberbatch) é reconhecido, principalmente, como matemático, mas também foi criptoanalista, lógico, filósofo, cientista da computação e biólogo, ou seja, um gênio completo. Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo britânico reuniu uma equipe de grandes mentes da época, incluindo Alan, para uma missão secreta e de grande prioridade: decifrar Enigma, o código utilizado pelos alemães para enviar mensagens a suas tropas e planejar ataques aos inimigos, considerado, praticamente, impossível de ser quebrado. Embora tente resolver de outras formas no início, Turing acredita que a solução seria construir uma máquina para analisar o sistema dos códigos nazistas (equipamento que acabaria se tornando um dos primeiros projetos de computadores da história).

     Gênio? Obviamente. Um dos maiores cientistas de todos os tempos? Com certeza. Porém, nem isso era suficiente contra o sistema de leis da Inglaterra. Atualmente, o preconceito ainda existe, mas, na época, era muito pior. Ser homossexual era considerado um crime grave no país. Alan Turing sofreu durante muitos anos tendo que esconder seus verdadeiros sentimentos, o que teve grandes consequências em sua saúde mental.

     O protagonista é apresentado, claramente, como um dos nomes mais inteligentes de seu tempo, mas o roteiro destaca quantos defeitos de personalidade o matemático possuía, sendo arrogante e extremamente narcisista. Alan Turing afirmava preferir trabalhar sozinho para evitar que os erros de terceiros atrapalhassem seu desempenho. Apenas isso já define bem o quão insensível o personagem poderia ser. Mas, o britânico também acaba passando a imagem de um homem solitário e melancólico, demonstrando que era muito mais do que aparentava.

     O roteiro se divide em três momentos distintos, apresentados de forma não linear: a infância de Turing, o período em que esta trabalhando na resolução da Enigma e os anos após a guerra, quando precisa enfrentar os problemas envolvendo sua sexualidade. A parte da juventude de Alan pode não ser tão desenvolvida, mas ajuda a introduzir um pouco sobre a questão da homossexualidade do protagonista. Já no último momento, acontece a cena mais memorável do longa, quando o personagem fala sobre o tal Jogo da Imitação, uma discussão sobre as diferenças entre as decisões morais de um homem e de uma máquina.

     A reconstrução da época é muito detalhada, com a produção chegando a utilizar verdadeiras máquinas da Segunda Guerra Mundial para adicionar mais realismo aos cenários. Desde as construções, passando por carros e roupas, a qualidade e o esforço da equipe técnica são claros e dignos de prêmios.

     Embora tenha tantas qualidades, O Jogo da Imitação não esconde que é um filme feito para o Oscar. Vários momentos são previsíveis, as clássicas frases de efeito motivacionais, que já marcavam presença nos trailers, estão por lá e a obra apresenta a clara intenção de emocionar, o que consegue fazer, mas poderia ter resultados ainda melhores se não apelasse tanto para o sentimentalismo em alguns momentos. É o tipo de produção que as premiações amam e sempre elogiam. Além disso, a direção do norueguês Morten Tyldum não é destaque, com planos simples e típicos do gênero.

     Benedict Cumberbatch demonstra todo o seu grande talento na melhor interpretação da carreira até agora. O ator é muito conhecido pela série Sherlock, cujo protagonista apresenta uma personalidade narcisista e um leve humor inteligente, então, não é difícil para ele absorver esse lado de Turing. Porém, Cumberbatch apresenta um sentimentalismo e um amor pelo personagem impressionantes, se dedicando como poucos fazem a uma produção. Entre os coadjuvantes, apesar de vários nomes conhecidos, o único grande destaque acaba ficando para Keira Knightley. em uma atuação simples, mas que se encaixa muito bem com seu sincero papel.

     Competente e muito bem ambientado, O Jogo da Imitação é um ótimo filme. Emociona, consegue manter o interesse e apresenta um protagonista interpretado de forma fantástica, porém, é uma obra que segue a velha fórmula das grande produções. Apesar disso, ainda possui um saldo muito positivo. Vale a pena conferir um pouco sobre a vida de um dos gênios mais incompreendidos do último século e toda a história da humanidade.

Por: Vitor Pontes

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