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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo - Crítica

Nota: 9

Título: Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo (Foxcatcher)
Gênero: Drama, Biografia
Nacionalidade: EUA
Ano de produção: 2014
Estreia no Brasil: 22 de janeiro de 2015
Duração: 134 minutos
Classificação indicativa: 14 anos
Direção: Bennett Miller
Roteiro: Dan Futterman
Elenco: Steve Carell, Channing Tatum, Mark Ruffalo, Siena Miller, Anthony Michael Hall, Vanessa Redgrave, Brett Rice, Guy Boyd


     A obsessão pelo sucesso parece ser um dos temas mais presentes nessa edição do Oscar. Whiplash - Em Busca da Perfeição e Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), dois grandes nomes na premiação desse ano, tratam da necessidade de fama e reconhecimento, aliadas ao desespero em não ser uma pessoa qualquer que logo será esquecida. No primeiro, temos um jovem em busca de seus sonhos, no segundo, há uma grande crítica as mídias de entretenimento. Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo, ousa ao trazer uma representação desse tema em escala ainda maior: a obsessão de um país pela vitória.

     Mark Schultz (Channing Tatum) é campeão olímpico de luta greco-romana e uma lenda do esporte. O americano sempre treinou junto com o irmão mais velho, Dave (Mark Ruffalo), outro nome importante da modalidade. Apesar do sucesso, Mark parece não se contentar com o que já possui, vivendo de forma triste e simples. Um dia, Schultz recebe uma ligação de John du Pont (Steve Carell), milionário apaixonado pelo esporte, que deseja o atleta em sua equipe, a Foxcatcher, onde teria todo tipo de suporte financeiro para alcançar glórias cada vez maiores. Embora tudo pareça incrível no início, Mark começa a perceber que a complexa personalidade de du Pont é um grande problema, podendo levar a consequências chocantes na vida do lutador.

     Bennet Miller, diretor do filme, continua demonstrando sua preferência em adaptar histórias reais (sim, por mais incrível que os acontecimentos sejam, são fatos). O cineasta volta as telas três anos após realizar o excelente O Homem que Mudou o Jogo, fazendo parceria com o roteirista Dan Futterman, com quem trabalhou em Capote, filme que rendeu ao diretor uma indicação ao Oscar. Novamente, Miller foi nomeado a categoria no grande prêmio de forma justa pela melhor produção de sua carreira até agora.

    "Eu dou esperança a América". A frase de John du Pont, que esta presente até no trailer de Foxcatcher, é marcante dentro do contexto do filme: a insatisfação dos EUA com a derrota. Faz parte da cultura dos norte-americanos não aceitar ser o segundo lugar em nada. O país precisa ser sempre o melhor. O narcisismo estadunidense é o principal alvo da crítica do longa que, apesar de focar no esporte, pode claramente ser interpretado como uma metáfora as decisões políticas da nação.

     Com um clima sombrio e melancólico, a obra demora um pouco a engrenar, mas, após um tempo, começa a demonstrar todo o potencial através da figura de seus três protagonistas. O desenvolvimento de cada um é feito pelo estudo de suas personalidades diante de situações que envolvem derrota e superação. Assim, todos se relacionam com a necessidade de vencer que é tema da produção, querendo sempre mais do que já possuem.

     John du Pont é, certamente, a figura mais interessante da história. Um homem reservado e com claras dificuldades para se relacionar com outras pessoas, o milionário tem uma postura superficial e pouco expressiva que é o reflexo dos problemas psicológicos que possui e de sua infância complicada. Com isso, é difícil prever qual será a próxima atitudade do personagem, com as únicas pistas sobre suas ações sendo reveladas pelo olhar assustador que mantém. Todo esse desenvolvimento só acontece de forma tão boa graças a atuação fantástica de Steve Carell. O ator conhecido por comédias se arrisca em um papel mais sério como fez em Pequena Miss Sunshine, mas com um impacto extremamente maior. Elogios aos responsáveis pela maquiagem, que o transformaram em uma figura muito sombria.

     Mark Schultz é o grande representante da obsessão pela vitória, custe o que custar. Porém, o personagem começa a se alterar cada vez mais conforme percebe as dificuldades em viver com du Pont. Channing Tatum merece muito destaque pela parte física. O ator passou por séries de pesados exercícios antes das filmagens para ficar com o porte de um lutador olímpico, que se adapta muito bem ao jeito do protagonista. Mesmo que, geralmente, se saia melhor em comédias, Tatum mostra que tem capacidade para algumas produções mais dramáticas.

     Completando os destaques, esta o sempre ótimo Mark Ruffalo, intérprete de Dave Schultz, que representa, muitas vezes, o oposto das ideias do irmão. Aposentado, mas ainda participando de alguns eventos, Dave parece se conformar várias vezes com sua situação, o que os outros acreditam ser um absurdo.

     Com atuações fantásticas e uma parte técnica muito boa, Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo é um excelente filme, embora leve um tempo para prender a atenção de vez. Na parte final da obra, uma cena é especial: Mark Schultz entrando em uma luta aos gritos de "USA, USA, USA". Ali, tendo em mente os acontecimentos anteriores, é possível ver que Bennett Miller passou com sucesso a crítica que tinha em mente. Mesmo que venha por caminhos sombrios, a vitória é essencial. Nada mais importa.

Por: Vitor Pontes

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